Corujices

 Sempre tive um gosto meio estranho. Uma vez no auge dos meus 7 ou 8 anos de idade, vi, por cima do muro, uma coruja. Cheguei em casa e espalhei para todos sobre a minha mais nobre visita da tarde. Todos os dias, durante algumas semanas, a coruja voltava e ficava ali parada no muro da escola. 
 Acabei mudando de casa, de escola e de vida e com isso acabei deixando para trás toda aquela rotina de estar no mesmo lugar, no mesmo horário com a dona coruja.
 Só que eu havia tomado gosto por ela, não que corujas sejam meus animais prediletos, mas simpatizei com a bichinha. 
 Um dia, ouvi minha mãe dizer: "Deixa de ser coruja!" e perguntei o que significava o verbo corujar. Entendi algo como paparicos e proteção e então acabei de identificando ainda mais com o  animal da noite, pois sempre cuidei muito dos meus entes queridos, principalmente meus irmãos. Sempre corujei bastante aqueles dois.
 Antes de ontem, dia 03 de abril de 2012, nasceu mais uma protegida. Minha pequenina baby sister Ísis veio ao mundo. Depois do trabalho, fui apressada para a maternidade sem nem perceber que usava brincos de coruja.
 Confesso que fiquei emocionada quando segurei aquele pedaço de gente, ao qual me senti quase que na obrigação de me tornar protetora. Livrar dos perigos, das pessoas ruins e não vê-la chorar... Mas, todo aquele filme que passou na minha cabeça foi interrompido por um som bonito e desesperador de choro. Balancei para um lado, balancei para outro, ela se calou e ficou ali, de olhinhos fechados, com aquela respiração mansa. Naquele momento eu me senti mais frágil que ela e entendi mais que perfeitamente o que é corujar. Aquele dar sem precisar receber, o se doar apenas para acalentar, o proteger apenas por amor.
 Não tive a chance de sentir isso com meus outros irmãos quando eles eram recém-nascidos, mas sempre senti que devia cuidar deles até esgotarem todas as minhas forças. Hoje, mais do que nunca, descobrir o que é querer estar perto e cuidar. 
 Seja bem vinda ao mundo, pequena Ísis.