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Ancorar

 Depois de tanto tempo, estou me redescobrindo em alguém. Eu que já estava tão acostumada a ser eu sozinha, hoje conto as horas para chegar o final de semana. Eu que já estava acostumada com a solidão da minha cama, peço um beijo a mais antes de dormir de conchinha. Eu que queria liberdade, hoje quero ser livre nos braços de alguém. Hoje eu só quero ancorar.

 Não lembrava como era ter alguém gostando de mim dessa forma, também não lembrava como é ter medo de perdê-lo. Não me lembrava como é ficar com tanta saudade logo após me despedir, também não lembrava como é gostoso andar de mãos dadas por ai. Não lembrava como é bom dormir assistindo um filme no colo de alguém, também não lembrava como é a sensação acordar e ter alguém olhando para você e sorrindo. Indescritível. E eu com medo de me prender, percebi que medo eu tenho de perder por não ancorar. Eu que fugi tanto, hoje gosto de fazer planos. E só isso. Ancorei.

 Nunca entendi muito bem como são usados certos tipos de "por quês" e demorei muito para aprender a diferença de "mal" e "mau". Se me perguntarem não vou saber dizer nada sobre o amor, que seja concreto e fiel ao sentimento, mas poderei falar sobre o que aprendi com ele, o sentindo por alguém. Aprendi do bom ao ruim, do prazeroso ao desgostoso, aprendi que se um não está bem o outro não está bem também.  Tinha me esquecido como gostava de ser par. Estou redescobrindo sentimentos que há muito tempo estavam adormecidos. Agradeço sempre, quem me fazer feliz, por me lembrar o quanto eu gosto de sorrir por lembrar de alguém.

 Fomos incentivados a vida inteira a sermos um pouco egoístas; não colocar nada a frente da nossa felicidade; pensar mais em nós mesmos e blá blá. Sempre tentei seguir essa linha, até descobrir o quanto é gostoso ver quem amamos sorrir. Deixaria tudo para trás se fosse para abrir um sorriso gostoso no seu rosto. Você não imagina, como foi difícil admitir que estava apaixonada outra vez e o meu medo de não te fazer bem da forma que você merece. Volto ao egoismo e sinto que estou com você também por você me fazer tão feliz. Egoismo assim vale? Espero que sim.

 Enfim, ancorei. 



Ao novo

 Oi meu amor! Como vai? Espero que bem.

 Bom, para começar quero um sorriso no seu rosto. Esse ai mesmo! Como eu amo o seu sorriso... Depois, quero te agradecer por tudo, mas o tudo eu conto daqui a pouco. E terceiro, quero lhe pedir desculpas! Vamos por partes, primeiros as desculpas.

Me desculpe por não me lembrar da primeira vez que nos vimos, estava me divertindo com minhas amigas e não prestei muita atenção aos desconhecidos que sentou na mesma mesa de bar que eu. Você me notou, mas demorou um tempo para se lembrar depois que era eu. Claro, estava com os cabelos longos naquele dia, na altura da cintura e eu hoje exibo um corte curto. Compreensível, mas pelo menos você se lembrou. Isso me deixa feliz.  Me desculpe também por não me lembrar do nosso primeiro beijo, do que conversamos, de como nos aproximamos e de como tudo terminou. Talvez a mistura de álcool com fortes emoções sempre me farão acordar no hospital, com amnésia e dor na consciência. Tudo o que eu sei é o que me disseram e deixa eu te contar um segredo? Meu nome é Ana! Não se esqueça mais ein?! A não ser que queria se aventurar comigo na ambulância na próxima vez... Me desculpe também por todos os meus grilos e medos, é que fazia tempo que eu não gostava de ninguém e eu tive muito medo de ser uma pessoa ruim para você. Queria sempre ver sorrisos, mas já sequei lágrimas que escorriam dos seus olhos e eu também não me lembrava como era a sensação de me sentir repugnante por fazer alguém sofrer.

Agora, aos agradecimentos. Obrigada por ser tão você! Pelo seu amor e pelo amor que fez nascer em mim; pelos seus abraços e beijos, tão aconchegantes que me esqueço do mundo afora; pelo seu carinho e atenção de sempre; pela preocupação com minha saúde; pelos jantares fora e por ser as vezes o cozinheiro, pelos cinemas ou pelos filmes debaixo do cobertor e pipocas de manteiga, pelo vicio em comum em hambúrguer... Espere, deu fome. Vamos mudar de assunto. Meu amor, obrigada pelos conselhos, pelos sermões, pelos passeios de carro com aquelas músicas estranhas e por nunca reclamar de dormir de conchinha. Obrigada pelos novos amigos, pelas novas farras, por despertar suspiros apaixonados nas minhas amigas quando falo quão fofo você é comigo. Obrigada por ter paciência, sei que sou uma pessoa difícil. Obrigada por tentar resolver tudo na hora para não dormirmos chateados um com o outro. Obrigada por segurar minha mão. Obrigada também por secar minhas lágrimas e pelas lindas mensagens antes de dormir. Obrigada por ser tão compreensível com tudo. Enfim, digo de novo: OBRIGADA POR SER TÃO VOCÊ! Em caixa alta, para não ter dúvidas da veracidade dos meus argumentos para dizer o que me faz te amar tanto em tão pouco tempo.

Sempre fui a dona da razão e a medrosa quando se fala de sentimentos. Nunca fui a primeira a dizer eu te amo. Meus medos e receios me impedem. Mas não sou de esconder o que eu sinto e eu sinto muito te informar mas não quero desgrudar nunca mais. Eu sou toda sua meu amor, vem ser todo meu?

Com amor,
Aninha Correia.


Havia amor, sempre houve.

 Oi passado, como vai? 

 Até parece que foi ontem quando tudo começou. Não posso dizer que lembro exatamente como foi, apenas sei que comi um pastel engordurado, bebi algumas cervejas e acordei no hospital depois de horas desmaiada. A minha amiga estava lá, como sempre, cuidando de mim. Tudo que sei sobre esse dia, é o que outras pessoas me contaram. Eu ia saindo do bar acompanhada por você, pedi que não fosse um cafajeste comigo e logo depois disso você perguntou meu nome. Poxa, são só três letras, nem é tão difícil assim para você se esquecer... Mas enfim, pouco depois voltei para o bar, fiquei frustrada por "todos os homens serem iguais" e desmaiei. Passeei inconsciente de ambulância até acordar com soro na veia e maquiagem borrada.

 Já devia ter percebido ali, que ficar com você não era a melhor escolha, mas resolvi tentar. Tenho um pouco de auto destruição dentro de mim. Nos primeiros meses, tudo as mil maravilhas. Jantares, filmes, pipoca com manteiga, e coisas que eram só nossas. Pouco a pouco nos tornamos dois de novo.


 Não vou dizer que não sinto falta da sua conchinha, mas não é diferente em nada de qualquer outra que eu possa encontrar por ai. Mas havia amor, sempre houve. Desse que você deixou afogar, logo após fazer respiração boca a boca. Nunca soube direito o que você queria, você nunca se abria comigo por livre e espontânea vontade. Eram só quando as coisas chegavam ao extremo que eu ouvia seus medos, suas vontades e até sentimentos que você insistia em manter ocultos.


 Eu sei que você nunca vai ver os meus filmes prediletos, nem os que você poderia realmente gostar. Tenho certeza que você amaria "Orgulho & Preconceito" tanto quanto eu. E minhas músicas? Perdi as contas de quantas vezes brigamos por conta de bandas ou cantores que eu amo e dos integrantes que são amigos. Mas nada disso importava quando tudo entre nós ficava bem. Havia amor, sempre houve. Desde o primeiro dia, desde os primeiros olhares. Parecia idiota o bastante para eu brincar com a situação.


 Sinto falta de muita coisa, mas nada mais que do que o seu sorriso e barba falhada. Gostava de tanta coisa em você. Coisas que se perderam no tempo e comodismo do nosso relacionamento. Não nos esforçávamos para ficarmos juntos. Se desse, deu. Se não, paciência. As coisas aconteciam quando tinham que acontecer, se quiséssemos que acontecesse. Você dizia querer me dar todo o seu amor e eu queria um pouco de atenção. As intenções eram boas, mas não passavam de palavras...


 Hoje, somos dois. Não quero sua amizade, me desculpe. O que eu queria de você, nunca mais vou ter. Desisti, joguei a toalha. Fui embora depois de você abrir a porta para que eu saísse, levei as malas e não vou voltar. Passar bem, ex amor. Espero que seja sempre feliz.




Alice

 Ela sentiu saudade. Aliás, ela sempre sente. Como poderia não sentir? Ela estava no mesmo banco, em frente ao mesmo coreto, próximo a toda aquela área verde em que há pouco mais de três anos, deu o primeiro beijo naquele que sonhara acordada durante grande parte da última década. Exagero? Talvez. Mas que amor não tem um pouco de drama? Como poderia não haver uma pitada de dor no amor de uma escritora e um músico filosofo?

 Alexandre era o tipo de cara que atiçava Alice e depois pulava fora. De comum, além do fato de escrever, só a letra A no inicio dos seus nomes. Ela ariana, ele pisciano, dizem as más línguas nos horóscopos da vida que não é uma relação fácil. E não foi. Ela fogo, ele água. Ao mesmo tempo que esse amor ardia, ele acabava apagado e logo evaporava. Ela super agitada, ele desligado. Ela se entregava fácil, ele se apaixonava fácil... Por outras, na maior parte das vezes. Alice nunca soube se ele lhe era fiel, mas nunca acreditou que pudesse ser. Ela companheira, ele individualista. Ele otimista, ela realista. Eram coisas pequenas, mas que ficavam enormes pelo tanto de teatro que eles faziam em casa situação. Ela virava as costas e batia a porta. Ele esperava ela o procurar. Só faziam as pazes quando se viam na rua e não podiam fingir que estavam bem. Ela orgulhosa, ele tanto faz.

 Mas entre eles existia amor, era fácil de se ver. Ela escrevia sobre ele, ele cantava músicas sobre ela. Ela amando o tal menino que conheceu no ônibus, que carregava consigo um violão e uma cara de pau enorme. Ele amando a tal menina que se fazia de difícil mas não conseguia resistir aos seus encantos. Ela marcava presença em todos os shows, fã número um. Ele sempre a surpreendia na praça, perto do coreto onde ambos passavam tempo demais pensando um no outro. Ela perdidamente apaixonada, ele apaixonadamente perdido.

 Alice não se sentia muito bem com o assedio em cima do namoradinho rock star. Alexandre se enciumada com a quantidade de marmanjo que chegava cheio de charminho para cima da sua bela garota. Ambos querendo ficar juntos, ambos querendo se separar. A pressão para cima desse casalzinho pop era gigante. Como os fazer ficar? Resolveram que era melhor acabar, enquanto não se machucavam mais.

 Mas ainda existiram as músicas, as crônicas e os poemas, os versos combinados e o maldito coreto cimentado no meio da praça favorita do casal. A praça se chamava "Liberdade", mas quem é que queria ser livre? Alice roubou uma margarida, fez bem-me-quer. Alexandre a observou de longe, sem coragem de se apresentar. O lugar que um dia uniu, no outro fez dois corações se quebrarem. Seria justo e bonito falar que foi só uma fase, que depois se acertaram... Mas a vida real é bem diferente do conto de fadas.

 Alice logo mais ia se formar, mudar de cidade e ia conhecer Felipe. Ia se casar, descobrir que não poderia ter filhos e ia adotar um cachorro. Seguiu o conselho de ficar com quem gosta dela, mesmo sem ela gostar. Alexandre ia começar a ficar famoso, shows pelo país, várias mulheres por cidade, uma por dia e um vazio que não sabia se um dia ia transbordar. Se é que um dia poderia. A história dos dois sempre será inacabada, por que se adaptaram ao que tinham. Deixaram o amor perder e a dificuldade ser maior. O coreto sempre estará lá. Ambos sempre irão visitá-lo quando estiverem na cidade e sempre se lembrarão que um dia se amaram louca e ardentemente. Vão pensar que não era para ser e quando menos esperarem estarão escrevendo um sobre o outro, outra vez.

 Seria cômico, se não fosse tão trágico, se fosse só uma historinha. Mas é a vida real. Deixamos sempre orgulhos e dificuldades nos vencerem em algum momento. Deixamos de lutar tantas vezes por simplesmente achar que a guerra já foi perdida. E no final das contas, as vezes, ambas as partes poderiam cessar fogo e levantar bandeira branca...




I Can't Be Tamed



 Eu quero mais! Vida, estende o tapete vermelho que meu nariz empinado quer passar. Eu cansei de ficar na surdina, agora eu quero é causar. Em vez de ter beijos roubados, eu quero ser a bandida da vez. Em vez de cinema, eu quero dançar a noite inteira, com mistos de ritmos e com a vergonha perdida em um dos shots de tequila. Please, don't stop the music! Aumenta o som. Deixa a luz da lua brilhar mais um pouquinho que a noite não vai ter fim. Hoje ninguém pode me domar. Pede para as estrelas não irem embora, deixa o sol tardar.

 Hoje eu quero mais de mim. Depois de anos me dedicando a alguém, eu resolvi ser minha prioridade. Dona do meu próprio umbigo, minha propriedade! Eu não vou ser nada, além de minha. No maior estilo tribalista, "não sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". Hoje quero olhar o brilho dos seus olhos e rir de você. Hoje quero sorrisos estragados com um "não". Hoje quero ser apenas a tentação e não a conquista. Hoje ninguém me leva para casa, só mesmo os meus pés. Vou dormir desacompanhada, para amar só a mim. 

 Resolvi que todos os dias, serão meus dias. Só serei infeliz se eu quiser. Decidi que nada mais importa, só a minha auto estima. Me elogie, eu quero ouvir você falar o quanto estou incrível no meu vestido justo. Eu quero uma maquiagem borrada pelo suor e não pelas lágrimas. Eu quero meu copo sempre cheio e o coração intacto. Hoje não amo ninguém, só a mim mesma. Eu não posso ser domada, nem tomada por nenhum sentimento. Hoje sou só minha, hoje sou dona do meu eu. Hoje eu sou a bandida da vez.



 

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