Uma tal mentira

 Das mentiras que você me contou, uma delas me doeu mais. É que quando você dizia que me amava, parecia tão real que nem mesmo o meu alarme de caras idiotas soou. Quando os sinos tocaram eu reparei que estava cega de amores e que isso tinha me tirado a noção do que era certo ou errado para mim, as borboletas voaram tão alto que com medo de que o tombo fosse doer eu tapei os olhos para não me ver em queda livre. Acho que o amor é mais ou menos isso, o medo e as incertezas, a insegurança e até mesmo a falta de amor próprio quando ultrapassamos o orgulho para correr atrás de alguém que sabemos que não vale isso tudo.

 Não te culpo por eu ter me iludido, eu já sabia que não devia confiar em ninguém. Minha mãe já havia me dito "tenha calma, não se entregue fácil assim à um sentimento que você não tem certeza", meu pai me disse "cuidado!" e meus amigos sempre me disseram que você era mais idiota que o meu ex. Eu devia ter os escutado, mas você me tapou os ouvidos e impermeabilizou as criticas com suas doces - e mentirosas - palavras.

 Ei, eu conseguiria ser uma boa namorada, se você tivesse se dado a chance de realmente tentar gostar de mim. Eu iria te dividir com os seus amigos, sem problema algum, seria gentil com as suas amigas, assistiria ao futebol na quarta feira com você e se quisesse sair a noite no sábado, eu inventaria algum programa meu. Eu conseguiria ser assim... Poderia ir no pop, mesmo gostando de rock, poderia te ligar apenas de vez enquando para você não se sentir pressionado, não te cobraria nada mais que o necessário e até limparia o quintal pós visita do Marley. Faria isso sem reclamar, por que minha recompensa seria acordar do seu lado todas as manhãs.

 Eu faria tudo isso e mais, se você tentasse me amar. Mas você resolveu mentir para si e para mim, e acho que até mesmo chegou a acreditar que um dia me amou, mas o seu ego era maior que qualquer outro sentimento que você poderia sentir. Que pena, eu poderia ser tudo, poderia tentar chegar a perfeição. Se você tentasse me amar...