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Metade do que sou


 Foi leve como uma brisa, forte como um tornado, foi doce como mel e amargo como alcachofra. Fui eu. Foi ele. Foi nós. Foi... Foi com ele, metade do que sou, metade do que me tornei, metade de mim. Ainda que tenha tempo, que se passem primaveras, ouvir o seu nome ainda vai ter gosto de coisa mal-acabada, de incomodo, de sentimento mal-resolvido. Me fará baixar a cabeça, engolir o choro e tirar o chapéu pro strike que fez com meu coração. Afinal, que sentimento louco é esse? 

 É a parte real, que prova a mentira que é a frase "tudo passa", por que não passa, persiste, por que é real, sempre foi real, até nos meus mais iludidos sonhos, foi real. Acredito fielmente na mudança do amor, mas se fica tatuado na pele é por que o amor não ficou para depois. O amor quer agora, quer pra já, quer ficar. O amor vai estar ali, rindo da minha cara quando tocar uma música romântica ou melancólica, mesmo se eu fingir a dor, mesmo que eu tente me mostrar superior. O amor ficou. As memórias também ficaram.

 Vou continuar lembrando daquele beijo na chuva, das piadas sem graça, das histórias contadas e das vezes que ele fez doer a barriga de tanto me fazer cocegas. Vou sentir saudade de ter alguém para contar sobre o meu dia, pra me abraçar, para ficar comigo num domingo a tarde, então vou dar um sorriso fraco por que vou perceber o quanto queria compartilhar isso com ele. Mas ele se foi. Algo vai me impedir de falar o que penso. Não vou mais poder dizer o quanto ele é bonito, o quanto gosto do tom do cabelo dele e do sorriso aberto que alegrava o meu mundo, e que sinto falta de apertar as suas mãos, ou quando elas acariciavam meu rosto ou puxavam o meu cabelo. Ou talvez, vou dizer o quanto ele era idiota, irritante e o quanto odiava quando ele estava brincando no playstation, ou se atrasava, ou não ligava, ou quando não reparava que havia algo diferente em mim. Talvez também diga o quanto tinha raiva dos seus amigos e quantos potes de sorvete comi para suprir a vontade de estrangula-lo.

 Então sentir saudade vai ser rotina. Por que acabei de perder uma presença constante. Me pergunto se dizer aquele bordão vai significar algo, se aquela mania irritante que ele tinha de fazer pergunta sob pergunta antes de eu responder a primeira, só para ver a minha cara de frustração vai me fazer perceber que metade do que sou, é ele. Se ouvir a sua música predileta vai gritar aos 4 cantos que as preferências dele se tornaram as minhas preferencias. E na maior parte do tempo, o silêncio é o que me corrói, bem aqui dentro. Me sobrou meio sorriso, meia palavra. E todos sabem como odeio metades... Me sobrou algumas lembranças entrecortadas, misturadas com um pouco de vontade de esquecer. Vou lembrar do timbre da voz e de como seu perfume impregnava em tudo, dos olhares que nos fazia entender o quanto pensávamos igual, do riso contido, da respiração afobada e da dor. Dói por que  as lembranças boas sempre prevalecem sobre as más.

 Perto e tempo o suficiente, nunca serão o bastante. O amor ganhou tempo e a paixão permaneceu nele. Então eu lembro, que metade do que me tornei veio não só por amá-lo, mas por poder tê-lo ao meu lado. E ai bate saudade e a vontade de voltar correndo aos seus braços. Só então entendo que a metade do que sou, nunca mais será uma parte do que sou.



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