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Pacata



 Presa no escritória apertado, Thais come um bolinho light, já que resolveu emagrecer pois está um pouco acima do peso ideal. Thais não é a mais bela, nem a mais inteligente, nem a mais - dito vulgar - gostosona do escritório, muito menos a mais carismática, ela seria o tipo "não é interessante".
  Trabalha na empresa de cosméticos mais popular da cidade e só se arruma por causa do trabalho, sofre por lá de 8:00hs às 18:00, de segunda à sexta. Nos sábados ela fica a deriva de filmes de romances que ela nunca terá, internet e livros, muitos livros. Aos domingos ela segue a rotina:  levar Alfred para passear, fazer uma caminhada na orla, almoçar um prato de salada de alface e tomate, escrever no seu "diário semanal" contando como andam as últimos dias, algo semelhante a crônicas cômicas sobre sua vida pacata, limpar a casa, ligar para sua mãe, comer um tablete de chocolate, lavar a alma tomando um drink forte e descansar, quase desmaiando, para se preparar para um novo dia.
 No fundo, Thais gosta das segundas-feiras e abominas as sextas. Gosta de só ter tempo para dar um carinho pro seu cachorro ao sair e ao chegar de uma longa jornada de 10hs de trabalho árduo; ela se acostumou a ser só.
 Mas ora bolas, ela tem 29 anos e esqueceu-se da vaidade, abandonou seus sonhos, desistiu dos relacionamentos, deixou seu diploma de bióloga e seus cursos profissionalizantes empoeirar e agora deixa o tempo passar rotineiro, sem altos nem baixos, sem deslizes, sem emoções, sem fracassos.
 Na sua agenda tem o telefone dos seus pais, seus irmãos e parentes próximos, aquele antigo melhor amigo, dos colegas de faculdade e dele, aquele que ela nunca esqueceu. Aquele que sugou sua vida, que hoje está casado, com um casal de crianças, um bom emprego, um negócio próprio, e acima de tudo é feliz, como ela nunca esteve. 
 Ela deixou a vida passar, os melhores anos, esqueceu dos momentos bons, não abraça seus entes queridos, não faz mais amigos. Ela deixou a vida passar, por alguém que, bem, não está nem ai pra ela. Talvez nem lembre que ela exista...
 Se vale a pena se privar do mundo pra ter um universo só seu? Onde ninguém entra, onde ninguém compartilha os bons momentos, ninguém vive ali do seu lado e te espera em casa depois de um dia de trabalho, bom se vale a pena é pra poucos. Mas a vida de Thais se tornou tão pacata que só mesmo um novo amor pra tira-lá da obscuridade. Mas enquanto ela aumentar seus muros de Berlin, meus caros, não tem nada feito.




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