Talvez ele seja um pouco louco... Toca violino nos metros enquanto todos os outros torcem para chegarem rápido em casa, depois de um longo e cansativo dia de trabalho. Ninguém percebeu as músicas que ele tocava, mas quando ele chegou olhou cada um nos olhos e era quase como se poetizasse os seus "oi, como vão? Só quero tocar algumas músicas e desculpem-me." O seu nome é Paulo mas não me recordo do seu sobrenome. Fiquei tão focada na sua música que nem na estação certa eu desci.
Tinha cabelos negros e olhos claros, usava um óculos de muitos graus e dizia ser um legionário, que foi comprovado quando tocou músicas de Renato. Tentei entender a mensagem que passava mas foi preciso perguntá-lo sobre isso. Mal consegui acreditar.
Paulo disse que tocava para si mesmo.
- Mas como assim para si mesmo? Por que não toca para si mesmo em casa ou em algum lugar que esteja sozinho?
- Por que é quando estou perto das pessoas que me sinto sozinho. Olhe, quando estou em casa, tenho minha cadela como companheira, tenho o barulho da geladeira, tenho a televisão e tudo mais, mas quando estou aqui ou algum outro lugar movimentado que eu sinto o vazio. As pessoas não olham uma nos olhos da outra, não se dizem "bom dia/boa tarde/boa noite", não pedem desculpas se se esparram, ou nada disso. Elas tem medo de serem assaltadas ou qualquer outra coisa. Elas ficam sozinhas consigo mesmas e parecem nem se importar... Se incomodam até se alguém senta aos seus lados. - Paulo disse e por um momento me deixou sem palavras.
No caminho, todas aquelas coisas ficaram martelando na minha cabeça. Por que o ser humano é assim? Paulo estava certo o tempo todo. Estamos sempre tão preocupados e mergulhados nos nossos problemas que mal prestamos atenção ao que se passa lá fora. O tempo corre e a gente para.
O arco íris vem e ninguém vê. A chuva vem e só nos preocupamos com o cabelo, maquiagem ou os relatórios que podem molhar. Os livros estão guardados nas prateleiras, as músicas do ipod não estão atualizadas, o chá está esfriando e as rosas já murcharam. Ninguém mais tem tempo para nada.
Então deixei que o som me levasse para outro lugar, pensei em viajar e descançar um pouco. Tirar um tempo pra mim e valorizar o por-do-sol. É isso que eu quero, é isso que aprendi que tenho que fazer com ajuda das cordas de um violino.
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