Páginas

Um oi ao som de um adeus



 Recebi sua ligação e você pediu que eu o encontrasse. Fui ao local combinado e ao chegar vi que estava esperando por mim, como era de costume. Olhou-me caminhando em sua direção e abaixou a cabeça, embaralhando suas mãos e com o pé num ritmo constante, mexendo de lá pra cá. Ao sentar-me perto, vi que estava com o olhar cabisbaixo, querendo lagrimejar e dizendo-me que tinha uma má notícia. Tão mal beijou-me quanto mal abraçou-me, havia algo extremamente ruim vindo por ai. 

  - Eu vou me mudar.
  - De rua, bairro...
  - Estado amor! - disse cuspindo palavras, num tom quase irônico e discordante - eu não tenho muita escolha. Meus pais já acertaram tudo e só me falaram isso há algumas poucas horas. Vou para São Paulo.
  - E agora? - brevemente dei uma pausa - E a gente?
  - Eu não sei bem...
  - Quanto tempo até você ir?
  - Duas semanas.

 Foi naquele momento que meu coração trincou. Nas horas seguintes abriram-se rachaduras e pouco a pouco eu me sentia mais só. Ainda tínhamos 14 dias, mas isso nunca me pareceu muito tempo, e aqui ficaria apenas uma alma vagando sem emoções nas ruas de Belo Horizonte e meu coração, estaria a quilômetros daqui, em São Paulo, junto com meu melhor amigo, juntos com aquele que sonhei me casar, ter filhos, dividir conflitos e alegrias, meus sonhos iriam nos proteger, na minha mente para eu e você era só um contratempo do destino. No final, pensei eu, ainda ficaríamos juntos.

 Só nos restava alguns dias, apenas duas semanas. Tentei ficar calma e tranquiliza-lo também, e era até fácil dizer que eu estaria aqui esperando por você até a hora de voltar para casa. "Hoje foi um dia a menos com ele". Logo, logo, você iria partir e eu passaria o resto da vida tentando procurar em outro alguém, o que só encontrei em você. No dia da sua partida, fui com você até o aeroporto. Segurávamos a mão um do outro dentro do carro e trocávamos beijos que traziam junto com o gosto amargo da despedida, as lágrimas. No portão de embarque chorávamos por entre declarações de amor  e promessas de tentar manter aquela relação viva. 

 Eu não podia impedir que você fosse e seria egoismo meu pedir para ficar. Agora me contentaria com as lembranças que mais gostava, como o tom avermelhado que seu cabelo ganhava quando era envolto de raios de sol, como aquele beijo ao som de uma música qualquer e que ganhou outra trilha sonora, quando você leu um verso de um livro romântico qualquer ao qual o nome não me recordo o nome, pouco antes do nosso primeiro beijo, aquela poesia que disse 'ei acorda, ele gosta de você!' e me deu um empurrãozinho para mostrar que eu também queria transformar aquela amizade de infância em algo muito maior.  Mas até as minhas esperanças sabiam que era tarde demais para nós dois. Você estava ali do meu lado, tão magoado quanto eu, sabendo que ia embora e que as coisas não seriam mais iguais. Telefonemas de horas não matariam saudades, sua voz me torturaria e a presença constante era algo que eu não tinha mais.

 E me perdendo com os sorrisos e olhares brilhantes de pessoas felizes do lado de fora do táxi, voltava para a vida sem você, vida essa que nunca soube como seria vivida, você esteve comigo desde muito nova, estava indo para uma vida sem amor, sem alegria e sem meu refúgio. Semanas se passavam e eu choramingava pelos cantos da casa, implorando para esquecê-lo. Eu tinha que dar um fim a aquilo. De duas em duas semanas, voltava a BH e saíamos juntos, sós como se fosse um dia qualquer, trocávamos beijos e nos informávamos das últimas notícias da vida de cada um, que não deveria ser dita ao telefone, e quando você ia embora, era sempre o mesmo sofrer.

 Pelo que me lembro, a última vez que você veio me tendo como parceira, chegou com um belo sorriso branco iluminando seu rosto, com olhos brilhando e com uma expressão tão calma, serena. Como em todas as outras vezes, fui buscá-lo no aeroporto. Eu já estava decidida que não ia continuar com aquilo de me martirizar demais por medo de perdê-lo de vez, talvez depois disso você nem quisesse mais ter nenhum contato comigo.

 Eu disse um oi ao som de um adeus, estava trêmula e com pensamento vagando pelo terminal. Você reparou que havia algo acontecendo e eu disse, quase pedindo desculpas, que não podia continuar me machucando. Tentei correr, mas você me segurou e enxugou as lágrimas que deixei cair, entendeu e concordou. Continuávamos saindo, trocando beijos e mascarando sentimentos, e talvez com o tempo fui me acostumando a não me sentir só, por você não estar aqui.

 Já faz quase três anos e confesso que ainda hoje me sinto balançada por você. Com certeza, foi o meu primeiro amor e acho que é por isso que toda vez que escuto sua voz, sinto um oi com som de adeus mas não porque nunca mais irei de ver e sim por que deixei pra trás toda a nossa história, mas o que passamos juntos nunca passará. Eu nunca vou deixar de pensar em você, tão pouco pensar em como seria se você não tivesse ido embora e nunca, nunca mesmo, desejarei algo ruim a você. Você foi um grande amor, que apenas ficou para trás, numa caixinha chamada 'nunca se foi, mesmo quando partiu'.


0 Opiniões:

Postar um comentário

Curtiu?

 

© Cantinho do Blog. Todos os direitos reservados.Imagens: Valfré